Hoje,o sexo é visto como a locomotiva da existência.
Ao ler o título deste artigo,talvez você pergunte:Esse tema é pertinente para uma revista cuja principal preocupação é a questão do abuso?O abuso é definido como uma relação desigual de poder,na qual a pessoa que tem mais poder,seja físico ou psicológico,se vale dessa suprioridade para subjugar alguém que se encontra em condição de inferioridade,para se aproveitar dele.
Como introdução,eu gostaria de propor que a problemática envolvida no debate sobre a castidade tem que ver não apenas com a pessoa que abusa de outra,mas com ela mesma,ou seja,com a forma pela qual ela mesma,ou seja,a forma pela qual ela trata seu corpo.
É possível falar de castidade em pleno século XXI,nesta sociedade "evoluída",na qual o sexo é endeusado como se fosse a "locomotiva"da existência,aceitando os postulados de Sigmundo Freud,que afrima que a raiz de todas as nossas neuroses consiste na repressão sexual?
Atualmente,falar sobre virgindade ou castidade é algo considerado inadimissível e inaceitável na maioria dos círculos sociais em que vivemos..Entretanto,emvora com suas hipocrisias,até algumas décadas atrás,antes da revolução sexual dos anos 60,a castidade era um valor defendido pela sociedade.Parecia,então,que se tratava de uma questão de paradigmas.Mas vale perguntar:Esse valor é uma questão de moda,de cunho cultural,negociável?Quem deve estabelecer os verdadeiros valores de uma sociedade?Ciência,medicina,filosofia,psicologia,consenso social?
Para nós,cristão,Deus - "fonte de toda a razão e justiça" - é o árbitro final da realidade.Como Autor e Criador da vida,Ele sabe exatamente como devemos "funcionar" para semos plenamente felizes,sem incorrer em condutas que nos prejudiquem física,psicológica ou moralemente.Deus revela Sua vontade infinitamente sábia nas Escrituras Sagradas,a Santa Bíblia.
Num texto de rara beleza poética e espiritual,o salmista Davi disse:"Tu criaste o íntimo do mue ser e me teceste nov entre de minha mãe.Eu Te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável.Tuas obras são maravilhosas!Digo isto com convicções.[...]Os Teus olhos viram o meu embrião;todos os dias determinados para mim foram escritos no Teu livro,antes de qualquer deles existir" (Salmo 139:12,14,16).
Em outras palavras,as Escrituras Sagradas de acordo com um "design inteligente",de acordo com um plano nascido em Sua sabedoraie amor infinitos.Toda pessoa que se aproxima desse plano se apropria da verdadeira felicidade;quem se distancia dele,caminha para a dor e o sofimento.
O plano de Deus para a sexualidade é descrito resumidamente na sentença que aparece no início da história humana no Éden:"Por essa razão,o homem,deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher,e eles se tornarão uma só carne"(Gênesis 2:24,NVI).
No plano de Deus,as relações sexuais são símbolo,veículo e corolário da união de duas vidas que se amam e que,por se amar tanto,desejam "unir-se" como seres totais (espírito,alma e corpo),numa relaço de amor e compromisso mutuo,para sempre.Nesse sentido,quando jesus ão Cristo foi interrogado sobre a questão do divórcio (separação dolorosa que ocorre entre duas pessoas),Ele recorre a essa passagem de Gênesis como modelo do plano de Deus para as relações amorosas,afirmando o seguinte:"Vocês não leram que,no princípio,o Criador os fez homem e mulher e disse:Por essa razão,o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher,e os dois se tornarão uma só carne?
[...]Portanto,o que Deus uniu,ninguém separe"(Mateus 19:4-6,NVI).
Ou seja,na união sexual legítima,há tanta intimidade,tanto apego à pessoa amada,tanta fusão de duas vidas,que,para deus,elas "não são duas pessoas",mas uma entidade amorosa,que só pode ser dissolvida ao preço da intensa dor emocional e espiritual.Para evitar esse sofrimento,Jesus ordenou:"O que Deus uniu não o separe o homem."
Nesse sentido,o valor da virgindade ou da castidade correponde ao plano divino de proteger o ser humano das dores psíquicas,emocionais e morais que levam à banalização das relações sexuais,tão comum em nossa época de promiscuidade,própria da era pós-moderna,em que impera o consumismo,não só de coisas (o que se pode conseguir num shopping),mas também de pessoas.
O lema parece ser este:"Use e descarte."As pessoas também passaram a ser "desejadas".Uma coisa é ter um "encontro sexual"e outra coisa é ter uma "união sexual".Uma coisa ter compartilhar a cama ou colocar-se na cama do outro,e outra coisa é compartilhar a vida e colocar-se na vida do outro,com todo amor,com toda preocupação,união e compromisso que envolve.Uma coisa é fazer sexo como fruto de uma relação espiritual profunda,compartilhando o conjunto de sonhos da vida,e outra coisa é estar de visita na vida de alguém,compartilhando um encontro sexual esporádico,sem compromisso.
O grande psicólogo e pensador Viktor Frankl,médico psiquiatra e neurologista,oferece a seguinte perspectiva sobre esse assunto,partindo da observação e reflexão psicológicas,ao retratar o que ele denomina de "desumanização do sexo":
"Não se pode falar de sexo humano sem que ele seja feito com amor.Quando falamos de amor,precisamos nos lembrar de que se trata de um fenômeno exclusicamente humano.Sendo assim,devemos preservar sua qualidade especificamente humana e não abordá-lo de modo reducionista [...].O encontro amoros [...] exclui o uso de outro ser humano como meio de alcançar um fim,como instrumento utilizado para reduzir tensões criadas por impulsoso ou instintos libidinosos ou agressivos.Isso equivale à masturbação.De fato,é assim que muitos de nossos pacientes sexualmente neutóticos falam sobre o mode de tratar seus parceiros.Com frequência,afirmam que "se masturbam em seus parceiros".Tal atitude constitui uma distorção especificamente neurótica da sexualidade.
"A sexualidade é mais que mero sexo,à medida que serve como expressão fsica do amor.Quando o sexo cumpre essa função,constitui-se numa experiência autenticamente enriquecedora.Maslow (1964)tinha razão ao dizer:"As pessoas que não conseguem amar não obtêm o mesmo tipo de emoção que as pessoas que se amam".Segundo a opinião de vinte mil leitores de uma revista americana de psicologia que responderam a uma série de perguntas,o fator que mais intensifica a potência e o orgasmo é o romantismo,ou seja,algo intimamente ligado ao amor [...].
"Só um indivíduo neurótico se interessa,acima de tudo,em descarregar seu esperma,quer por meio da mastubação,quer utilizando seu parceiro como meio de alcançar o mesmo fim.Para uma pessoa madura,o parceiro não é "objeto",mas uma pessoa,um ser humano,a quem ele ou ela dá valor,levando em conta suas qualidades;e se ralmente o ama,considera o parceiro como pessoa unica e exclusiva em sua essência.[...]Entende-se que,quando alguém consegue captar a essência pessoal de um ser amado,dá lugar a uma relação monogâmica.A pessoa amada já não é intercambiável.Porém,quando uma pessoa não é capaz de amar,ela se envolve na promiscuidade.
"Isso implica ignorar a essência do outro,excluindo a relação de amor.Uma vez que só a sexualidade fundamentada no amor pode ser realmente gratificante e satisfatória,é pobre ea qualidade de vida sexual de um indivíduo que ignora a essência do outro.Portanto,não é de assombrar que ele tente compensar a ausência de qualidade por meio da quantidade.isso,por sua vez,exige estimulação incrementada e intensificada,como sugere a pornografia.
"Conclui-se claramente de tudo isso que não se justifica exaltar fenômenos de massa como a promiscuidade e a pornografia,ou considerá-los progressistas.São regressivos,sintomas de atraso no amadurecimento sexual,"
Quando há saude mental e moral,uma se impregna da outra;existe uma tendência muito forte de "fusão",a união de duas pessoas,e não semnte de corpos,levando ao desejo de unir e comprometer a vida para sempre com o ser amado,cujo selo é a união matrimonial.Quando não existe essa saude mental e espiritual,é até possível penetrar no corpo do outro,mas sem sentir apego,sem considerá-lo um ser desejável.Trata-se de uma sexualidade não somente imoral,mas também neurótica e patológica,segundo Viktor Frankl.
Ao longo das Escrituras Sagradas,prescreve-se a abstinência de relações pré-maritais,reservando a prática das relações sexuais para o estado de matrimônio,onde essas relações adquirem o significado de duas vidas unidas em compartilhar toda a existência,com suas alegrias e suas lutas.Portanto,as relações íntimas,longe de estar vazias de conteudo,como no caso da promiscuidade,representam e completam a união de duas vidas em um projeto comum,maravilho:a família,o bem mais valioso que Deus nos pode dar neste mundo.
Para evitar que outros abusem de você (mesmo que seja no sentido psicológico e moral) e de seu corpo,descrito pelo apóstolo Paulo como "templo do Espírito Santo" (1 Coríntios 6:19) e,acima de tudo,para que você não abuse de si mesmo,faltando com o respeito próprio,como pessoa digna de ser realmente amada por alguém que deseja compartilhar a vida e comprometer-se como você,siga o seguinte conselho divino:
"A vontade de Deus é que vocês sejam santificados:abstenham-se da imoralidade sexual.Cada um saiba controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa,não dominado pela paixão de desejos desenfreados,como os pagãos que desconhecem a Deus" (1Tessalonicenses 4:3-5).